O coletivo Guardiões do Bem Viver, formado pela juventude do território do PAE Lago Grande que corresponde às comunidades dos territórios do Arapiuns, Arapixuna e Lago Grande, na região de Santarém, no Pará, realizou nos dias 23, 24 e 25 de maio de 2025 o evento denominado Pré COP 30 com o tema “A COP das Juventudes da Floresta”, e o lema “No território das juventudes, justiça climática é bem viver”, na comunidade de Vila Brasil, no Arapiuns.
O principal objetivo do evento foi a elaboração de uma carta, a qual se denominou “Carta Política”, onde a demanda principal é o direito ao território, com o intuito de fazer com que esse documento chegue à mesa de decisões durante a COP30- Conferência das Partes, que será realizada este ano na capital do estado do Pará, Belém.
O evento teve início com uma mística e caminhada, onde o local de partida foi a comunidade de Coroca, os participantes seguiram por 4,7 quilômetros até a comunidade de Vila Brasil, que sediou o evento.
Com a concentração no campo da comunidade, o momento trouxe diversas reflexões sobre a importância da terra, dos rios, dos povos e das mulheres que são protagonistas na luta na busca por direitos dos povos da Amazônia e do território do PAE Lago Grande.
Com cerca de 800 pessoas durante o evento, a caminhada na estrada que liga as comunidades contou com muita música, e três paradas para reflexões, enfatizando a importância do movimento e das lutas enfrentadas pelas comunidades, e reforçando o quanto o protagonismo da juventude tem sido fundamental na luta pela garantia dos direitos de todos os povos da Amazônia.
Com debates diversos como: regularização fundiária, territórios livres de mineração, defesa das águas, agroecologia, educação ambiental, direitos da natureza e valorização dos saberes ancestrais.
Com participação da comunidade acadêmica e diversas organizações parceiras, o momento inicial de apresentação e agradecimento mostrou a importância da Pré COP 30 das Juventudes da Floresta no fortalecimento da luta. Organizações parceiras, movimentos sociais, e todos os envolvidos chegaram para somar na luta e numa construção coletiva, pelos direitos ao território, trazendo o protagonismo da juventude organizada, como enfatiza Marlon Rebelo, presidente da Pré COP 30 das juventudes da Floresta. “Esse espaço de discussão e de como a gente se organizou, né? É a juventude organizada e chamando atenção pro que de fato está ali nos ameaçando. Então a COP das Juventudes da Floresta ela tá sendo um espaço tanto das juventudes, quanto das lideranças comunitárias e de outras pessoas que estão presentes. Um espaço que veio pra somar o PAE Lago Grande e outros territórios, nos aliando pra isso e chamando atenção pro que está muito próximo de nós, está nos ameaçando e que estamos correndo risco”.
Dessa maneira, a juventude do PAE Lago Grande através dessa grande mobilização conseguiu reunir 600 pessoas, em sua maioria jovens de vários lugares e territórios para participar dos debates que refletem principalmente a realidade da população e das comunidades. “A gente vai formar um grande documento. Que esse espaço de negociação é a negociação da COP mundial, né? Esse espaço de negociação será a nossa construção de documento, onde o presidente, os relatores e algumas organizações irão se fazer presente numa mesa de debate onde nós iremos construir esse documento pra que no final a cópia seja lida e esse documento será a voz da população”, afirma Marlon Rebelo.
A mobilização da juventude também é um segmento na construção da Cúpula dos Povos, que são espaços de debate antes da COP 30, que também possuem o objetivo de apresentar alternativas à crise socioambiental, e a “Carta Política” elaborada durante a Pré COP 30 das Juventudes da Floresta potencializa a necessidade dessas vozes serem ecoadas para além das estruturas do estado, mas que a nível mundial se escute a voz que vem do povo, que conhece outros meios de desenvolvimento humano, econômico, social e político, trazendo a efetiva participação da juventude tanto na Cúpula dos Povos quanto na COP- 30.
Esse documento foi construído a partir dos anúncios e denúncias das comunidades, das lideranças e da juventude. “Foram recebidos documentos do Sistema Modular de Ensino, bem como demandas de outras instituições, para que a Educação Ambiental esteja inserida nesses espaços. Diversos atores se somaram na elaboração do documento que dá o “rosto” para essa COP, o rosto de juventude.”
A Pré COP 30 das Juventudes da Floresta foi marcada pelo protagonismo da juventude, com três dias intensos de debates divididos com uma metodologia que envolveu cultura, educação, formação e muitos aspectos da identidade dos povos dessa região.
Eixos Temáticos
A governança da Pré COP 30 das Juventudes da Floresta foi dividida por eixos temáticos discutidos paralelamente como a divisão de quatro territórios se chamando o Território das Juventudes, o Território do Bem Viver, o Território da Ecologia Integral e o Território das Águas.
Território das juventudes: discutiu a pesquisa juntes que é um projeto de extensão da Ufopa em parceria com o coletivo Guardiões do Bem Viver, que refere- se a uma pesquisa relacionada aos impactos das Mudanças Climáticas com dados que contribuirão no futuro para reivindicar Políticas Públicas, e a Comunicação Popular que tem sido potencializada pelo protagonismo da juventude.
Territórios do Bem Viver: discutiu a regularização fundiária, agroecologia e juventude e demais temas inseridos dentro deste tema.
Ecologia Integral: discutiu a elaboração de um documento juntamente com a igreja católica e a Campanha da Fraternidade sobre Ecologia integral. E a igreja se responsabilizou em assumir esse compromisso, tendo em vista a atuação da igreja católica na mobilização do povo frente aos movimentos sociais, e é importante a igreja inserida com essa causa social.
Território das Águas: discutiu bacias hidrográficas, a partir de um projeto dos Guardiões do Bem Viver e dos alunos do PRONERA, que também fazem parte do coletivo, e desenvolvem essa pesquisa acerca dos impactos das mudanças climáticas sobre o assoreamento dos igarapés e um alerta para a população sobre esse assunto. Dentro do tema abrange ainda os direitos da natureza.
A Pré COP 30 das Juventudes da Florestas representa um marco na mobilização social trazendo o protagonismo da juventude dos territórios do PAE Lago Grande, junto com a força das mulheres agroextrativistas, ribeirinhas, indígenas, e da juventude mobilizada com o desejo de transformação.
Segundo Maria Ivete Bastos, presidenta do STTR de Santarém, participar da Pré COP das Juventudes da Floresta foi um ânimo, uma grandeza de espírito e renovação.
“A gente vem pra dividir as experiências, pra trocar as experiências com essa juventude tão animada, tão transformadora. E isso nos anima muito, porque é uma sucessão na verdade em que nós que já temos mais de anos de existência, a gente sente a presença da juventude assumindo todo esse protagonismo na sucessão tanto da FEAGLE, do sindicato, dos movimentos, das lutas sociais e principalmente por defender o território, e defender o território é também falar pra COP_30 que vai acontecer nessa conferência das partes, falar que nós existimos na floresta, que existe um povo um povo que defende um território que conserva, que preserva as vidas tanto da floresta como dos rios, das populações”.
Ivete Bastos reforça ainda de trazer visibilidade a esse movimento, “vivemos aqui e sentimos a necessidade de sair dessa invisibilidade, porque o que tem visibilidade é o agronegócio e o agronegócio só destrói. E aqui a gente pode discutir o tema da agroecologia. Agroecologia ela é o futuro da produção porque ela transforma a vida de todo mundo quando produz sem veneno, sem agrotóxico, sem nada químico e discutir a agroecologia não é só o produto sem nenhum tipo de agrotóxico químico, mas é também transformar as vidas, educar para uma transformação inclusiva entendendo o protagonismo principalmente da mulher, da juventude como atores formadores de opinião e transformadores de soberania alimentar, de segurança alimentar de forma saudável e um planeta mais consciente fazendo justiça climática todos os dias.”
Francilourdes Gonçalves, pescadora artesanal e que faz parte da coordenação estadual do Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais do Brasil em entrevista ao Tapajós de Fato citou a importância do evento neste ano de COP- 30. “Essa foi uma iniciativa muito boa, que foi incluído todos os povos de comunidades tradicionais, inclusive a gente pescador e pescadora artesanal. E é uma forma de mostrar pro governo que nós estamos atentos a todas as tomadas de decisões. Nós queremos estar, nós queremos participar porque nada que seja feito na Amazônia com os povos, para os povos amazônicos, sem a nossa participação, a gente não aceita”.
O evento trouxe à tona a dimensão da força de articulação política da juventude num debate tão necessário que é a Política de Clima, tendo em vista, a COP 30 a ser realizada neste território paraense, assim, a juventude conseguiu mostrar e fazer valer sua voz, suas propostas, suas narrativas em um processo que visibilizou as denúncias sobre o avanço do capital nos territórios, onde a consequência disso, é a apropriação dos bens comuns, e a privatização desses bens como a água, a violação de direitos humanos, ameaças a lideranças, desmatamento, entre outras mazelas do capital causadas por grandes projetos como a mineração, o garimpo ilegal, o monocultivo da soja, pecuária, e esse modelo explorador predatório historicamente imposto na região amazônica que traz consequências gravíssimas, nos colocando nessa Crise Climática mundial, quase irreversível.
Contudo, a juventude, para além das denúncias, traz anúncios importantes, como a possibilidade de um novo modelo de economia, que não o capitalismo, como enfatiza Sara Pereira, Coordenadora da FASE Amazônia e Articuladora da Cúpula dos Povos. “O capitalismo está fadado a nos levar a uma destruição ainda maior, nos levar a uma destruição ainda maior se ele não for parado, né? Então esse sistema que explora o trabalhador, que explora mão de obra, que destrói a natureza, que produz comida com veneno, esse sistema tem nos levado à ruína e as mudanças climáticas são prova disso. Então é possível apontar uma nova forma de produzir economia, diz a juventude. E esse novo modelo é baseado no bem viver. O bem viver que tem uma dinâmica em que o centro não é tão somente as pessoas e sua capacidade de ter, mas são as pessoas e sua capacidade de ser, de se relacionar entre si, de se relacionar com a natureza, de tirar o seu sustento da terra a partir de metodologias que não destroem o meio ambiente, né? Produzir alimentos de maneira saudável, como a agroecologia faz, né? Que é um modelo produtivo baseado na produção de alimentos sem agrotóxicos, mas também em relações mais justas de trabalho”.
Dentro dos debates diversas questões foram pautadas, inclusive a possibilidade de saída que o próprio capitalismo, que produz a crise climática propõe como solução, não são eficazes para as populações deste território, como o crédito de carbono, segundo Sara Pereira. “Essa solução que na verdade não diminui a emissão de gases de efeito estufa apenas maquia, porque é uma Compensação, né? Paga pra quem não polui para que as grandes empresas continuem tendo o direito de poluir. Então é uma licença para continuar poluindo. Não tem como diminuir. Eu fiz as emissões, então por isso nós dizemos que isso é uma falsa solução E as verdadeiras soluções estão nos territórios e com economias mais horizontais, mais diversas, mais plurais e que fazem a renda de fato circular nos territórios, chegar na mão de quem precisa. Então foi muito interessante, muito bonito isso e o recado que essa juventude dá pros negociadores de dizer que sim, nós queremos estar na mesa de negociação, nós precisamos estar na mesa de negociação porque o que vai ser decidido lá tem rebatimento direto na vida dos territórios, nas nossas vidas, portanto essa COP traz toda essa força, essa vivacidade do que é essa esperança enorme que a juventude traz pra nós”.
O recado que a juventude do PAE Lago Grande traz aos negociadores mostra a força e a vivacidade que a juventude traz consigo, com engajamento coletivo, força, festa, união, alegria e emoção, apostando tudo na coletividade e no afeto que envolve um movimento nessa proporção, com o principal objetivo do direito ao uso real da terra ao PAE Lago Grande.
A luta popular segue firme nas mãos da juventude, que articulada e organizada traz revolução e esperança nesse momento de Crise Climática, para que a vida humana, para que o rio, fauna e flora consigam perdurar por mais tempo e de forma saudável neste planeta, e que o Bem Viver permaneça para que as novas gerações também possam usufruir das belezas e delícias que a natureza oferece. O evento da Pré COP 30 das Juventudes da Floresta é a certeza de que a voz potente da juventude da Amazônia vai ecoar para o mundo na COP 30.