Macapá (AP) - Entre os dias 5 e 7 de junho no Centro de Cultura Negra do Amapá (UNA), Macapá será tomada por vozes, sons e saberes ancestrais no Festival Amazônia Terra Preta 2025. Realizado pelo Instituto Mapinguari, o evento reunirá juventudes, quilombolas, indígenas, ribeirinhos e artistas em uma grande celebração da resistência cultural e ambiental amazônica — tudo isso a poucos meses da 30ª Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que ocorrerá na cidade vizinha de Belém (PA) em novembro.
Mais do que um festival, a 4ª edição do Amazônia Terra Preta se consolida como um espaço de incidência política, memória e protagonismo popular. Em um momento em que a crise climática já dá sinais alarmantes no Amapá — com secas intensas, cheias frequentes, aumento do nível do mar e salinização de rios —, o evento também é uma resposta dos territórios às decisões globais que afetam diretamente quem vive da e na floresta.
Sob o lema “Guardiões do clima e juventudes rumo à COP das pessoas”, o festival propõe um diálogo intergeracional e interterritorial sobre justiça climática e racial, transição energética justa e sistemas alimentares sustentáveis. Tudo isso se dará por meio de painéis, oficinas, uma mostra científica, feira da sociobiodiversidade e apresentações culturais no Centro de Cultura Negra do Amapá e no Bar do Vila.
“As populações tradicionais da Amazônia são responsáveis por proteger um terço das florestas brasileiras. Seus saberes são estratégicos para enfrentar a crise do clima e devem estar no centro da escuta de quem, de fato, pretende construir uma nova forma de existência mais sustentável neste planeta”, afirma Yuri Silva, coordenador do Instituto Mapinguari e um dos organizadores do festival.
A edição deste ano destaca o papel da juventude amazônida como protagonista na luta climática, promovendo espaços de formação e escuta ativa para que novas gerações se articulem em defesa de seus territórios. O evento contará ainda com a primeira edição da Mostra Científica Amazônia Terra Preta, reunindo pesquisas e experiências produzidas nas margens dos grandes centros, onde a ciência dos povos encontra a academia.
Com previsão de mais de 2 mil participantes e delegações de ao menos nove estados, o festival será um termômetro da mobilização amazônica rumo à COP 30. Mais que representar, os povos da floresta pretendem pautar a agenda internacional, levando soluções concretas e ancestrais para o centro das negociações.
“A Amazônia não pode ser apenas cenário da COP 30. Ela precisa ser sujeito. E é isso que faremos em Macapá: mostrar que as soluções para a crise do clima já existem, nas mãos de quem sempre cuidou da floresta”, reforça Hannah Balieiro, diretora do Instituto Mapinguari e membro da organização do festival em 2025.
Em um tempo de urgência ambiental, o Amazônia Terra Preta 2025 se ergue como símbolo de resistência, esperança e articulação. Uma verdadeira COP das pessoas, feita por e para os povos da Amazônia passa pela construção de espaços como esse: de encontro, escuta, compartilhamento e, sobretudo, ação para enfrentar a emergência climática que se impõe sobre todo o planeta.
Andrew Costa é jornalista do Instituto Mapinguari