Nesta segunda-feira, dia 3 de maio de 2021, aconteceu uma invasão ao STTR de Santarém por comunitários da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns que defendem a exploração de madeira na área, e surpreendeu a todos os funcionários e sindicalizados que estavam na sede. O tumulto começou por volta das 9:30 da manhã, onde aproximadamente 100 pessoas invadiram o prédio buscando pelo presidente do sindicato, Manuel Edivaldo e outros diretores da organização que se protegeram em uma sala com receio da reação dos intrusos.
Os invasores adentraram a sede do Sindicato e obrigaram os trabalhadores a suspender todas as atividades, batendo janela, tirando alguns trabalhadores rurais que estavam recebendo atendimento previdenciário, mandando que eles se retirassem, e entraram na sala de políticas sociais dizendo que ninguém mais seria atendido. Depois subiram as escadas rumo ao segundo andar, e de forma agressiva bateram janelas muito alterados. Vendo isso, a diretoria do STTR teve que acionar a polícia militar, a polícia federal e outros órgãos para que fossem para a sede do sindicato acalmar os ânimos dos invasores.
O Tapajós de Fato estava no local e conversou com Gracivane Moura, secretária de políticas sociais do STTR, que relatou um pouco do acontecido.
“Agora de manhã, tivemos a sede do nosso sindicato invadida por conta de uma ação que nós entramos em novembro pedindo a suspensão dos manejos madeireiros na Resex Tapajós-Arapiuns que estavam sendo realizadas por três cooperativas, a Acoperios, Acoprunã e Acoprumaró”.
Na semana passada todos foram surpreendidos pela decisão tomada pelo juiz federal de Santarém que concedeu a liminar favorável a continuidade dos projetos madeireiros dentro da Resex Tapajós-Arapiuns, levando em consideração que o conselho comunitário já estava sendo contemplado pela consulta prévia, livre e informada. Após a decisão, o Sindicato e o CITA foram até o tribunal federal recorrer, e o juiz concedeu na quarta-feira uma liminar suspendendo novamente esses projetos de manejo na Resex Tapajós-Arapiuns.
Gracivane deixou claro também que o Sindicato não é contra os projetos não madeireiros dentro da Resex, pois são projetos que irão trazer o fortalecimento e a manutenção dos povos da floresta nos seus territórios, e que essa foi uma luta do sindicato e sempre será, manter a população dentro da Resex Tapajós-Arapiuns de forma sustentável, ela encerrou dizendo “Todos nós fomos ameaçados enquanto diretoria da entidade, infelizmente também são lideranças nossas que estão aí influenciadas pelos madeireiros da nossa região”.
Manuel Edivaldo, Presidente do STTR de Santarém, explicou sobre o que motivou o STTR e o Cita a recorrerem a favor da suspensão dos planos de manejo madeireiros na Resex.
“O motivo de termos recorrido foi para assegurar realização da consulta prévia, livre e informada aos povos indígenas e populações tradicionais, de acordo com o que estabelece a convenção 169 da Organização Mundial do Trabalho”.
Porém, segundo Manuel, a decisão de interromper os planos de manejo madeireiro foi das comunidades que moram lá, e como a maioria é contra, coube ao Sindicato e ao Cita tomar tal decisão.
Como Manuel Edivaldo é presidente do STTR, todas as decisões foram atribuídas a ele, o colocando como alvo dos invasores. Após bastante tumulto e agitação, foi deliberada uma reunião para amanhã, às 9h na sede do STTR, onde será conversado sobre quais passos serão tomados a seguir, visto que não depende mais unicamente do Sindicato e nem do Cita, uma vez que o processo judicial está em estância federal.
A decisão do desembargador do tribunal federal de Brasília que suspendeu todos os planos de manejo madeireiros da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns e essa decisão tem um único pedido, realizar a consulta prévia, livre e informada de acordo com o que estabelece a convecção 169 da Organização Mundial do Trabalho. Agora, o pessoal atribuiu tudo isso primeiramente a minha pessoa, pois atualmente sou presidente do sindicato, e vieram para conversar, não era nosso objetivo que a situação chegasse a esse nível, mas já encaminhamos com as lideranças das cooperativas Acoprunã e Acoprumaró uma reunião para amanhã às 9h onde nós vamos conversar sobre quais passos tomar a seguir, visto que não depende unicamente do Sindicato e nem do Cita, por estar em um processo judicial, mas nós iremos ver como vamos nos encaminhar, para posteriormente ter uma conversa com o Ministério Público Federal para ver quais alternativas serão possíveis de serem tomadas.
O STTR de Santarém se pronunciou também em Nota dizendo que “O STTR, lamenta profundamente o fato ocorrido na manhã desta segunda-feira, no qual um grupo de pessoas de comunidades da Resex Tapajós Arapiuns liderados por representantes de Cooperativas” e continuou “Esclarecemos que não somos contra o desenvolvimento das nossas comunidades nem da região, mas precisamos de transparência dos processos. A população precisa ser consultada para que essa atividade possa ser realizada de forma legal. O STTR como representante dos trabalhadores e trabalhadoras rurais não está fazendo nada mais do que o seu papel de lutar pela nossa categoria, buscando o diálogo e os interesses do nosso povo.
Uma das organizações envolvidas nesse processo é o Conselho Indígena Tapajós Arapiuns que publicou uma nota sobre o ocorrido.
O Tapajós de Fato conversou com uma das membras da direção da organização Auricélia Arapiun que fala “Quero repudiar o ataque a sede do STTR hoje, nós sabíamos que estávamos sendo ameaçados, mas não imaginamos que chegaria a esse nível organização de povo contra povo, temos observado o que tem acontecido ao povo Munduruku e é realmente um efeito dominó que chegou até a gente.”
Auricélia deixou claro que a ação movida pelo Cita e STTR não é contra nenhum povo ou cooperativa, a ação é contra o ICMBio, e contra os planos de manejo madeireiros, que causam mais danos do que qualquer outra atividade extrativista na Resex.
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