O mito
A lenda narra que tudo teve início quando os Capuchos da piedade chegaram na região, que hoje corresponde os municípios de Alenquer e Curuá, para catequisar os indígenas. Ao chegarem na região ficaram sabendo da história que ocorrera com um pescador.
Um pescador costumava atracar sua canoa no tronco de um imenso jutaizeiro às margens de um lago na região, um dia, o pescador assustou-se ao ver que no tronco da majestosa árvore havia uma imagem, em vestes marrom, que parecia sorrir para ele. O homem então apanhou a imagem do tronco da arvore e levou para sua casa feita de palha e taipa(esse era o tipo de construção comum na época), a pequena imagem era de Santo Antônio e o sorriso era porque ele queria ser padroeiro da então vila de Alenquer.
Os Capuchos da piedade, ao terem conhecimento da história, tomara a imagem do pescador e levaram para o local onde estava estabelecida a missão Curu-há, atual município de Curuá, pois os padres queriam construir a cidade lá. O que os missionários não esperavam era que o santo iria se recusar a ser o padroeiro de Curu-há e, milagrosamente, retornou para o tronco do jutaizeiro na vila de Alenquer.
Os catequizadores o buscaram inúmeras vezes para colocá-lo no local onde seria construído a igreja, e chegaram até a amarrar a imagem, mas o santo sempre recusava ficar lá e voltava para o tronco. A lenda diz que sua roupa ficava cheia de carrapichos, (que são sementes de uma planta muito encontrada em Alenquer e que tem propriedades medicinais). Os catequizadores desistiram da ideia de leva-lo para Curu-há e decidiram derrubar a grande árvore e construíram uma capela no local e o tronco da arvore se tornou o altar-mor.
Hoje, no local onde foi construído a primeira capela de Santo Antônio, está edificada a igreja Matriz de Santo Antônio.
O que a história conta
Por volta de 1697, os Capuchos da ordem da piedade chegaram na aldeia de curuamanema, atual município de Curuá. Documentos históricos registram que essa chegada ocorreu no dia 13 de junho e, 13 de junho é a data de morte de Santo Antônio. Depois de um tempo os capuchos queriam mudar para a aldeia de Santo Antônio de Surubiú.
Para entender melhor a mudança da aldeia de Curuamanema para Santo Antônio de Surubiú, o Tapajós de Fato entrevistou a alenquerense, professora, historiadora, escritora e estudante de Antropologia, Áurea Nina Monteiro. Ela disse que “para justificar a mudança eles tinham que criar uma justificativa para que os nativos que eles mantinham em aldeamento acreditassem e aceitassem a mudança da aldeia de curuamanema para a aldeia de Santo Antônio de Surubiú. Eles dizem para os indígenas que o Santo Antônio sumiu, os indígenas saem para procurar e encontram ele em um troco de árvore, onde diziam, antigamente, que ficava atrás do altar da atual Matriz de Santo Antônio. Eles levam Santo Antônio de volta para curuamanema, trancam ele no oratório e mesmo assim, alguns dias depois o santo foge de novo. Eles vêm atrás da imagem e encontram no mesmo lugar. Então os padres disseram para os nativos para que eles aceitassem a mudança numa boa, que o Santo Antônio é que queria essa mudança para Alenquer. Assim, em 29 de março de 1729, eles vão fazer a mudança com grande parte dos povos nativos que eles tinham lá aldeados, mas houve resistência, houve rebeldia, alguns se negaram em fazer a mudança e permaneceram lá”.
A historiadora conta também o que eles fizeram ao chegar na aldeia Santo Antônio de Surubiú. “Para demarcar o local eles construíam uma capela, então, consta, pelas questões históricas, que logo que eles chegaram aqui eles construíram a primeira capela, que era coberta de palha e feito as paredes de ‘embarreada’. Teve essa primeira construção ainda na época da aldeia, posteriormente vai haver uma outra construção, e somente em 1876 é que vai haver uma construção com pedra, com cal e adobe. Provavelmente nos finais de 1800 é que eles vão construir as duas torres da igreja, antes não tinha as torres... as outras reformas internas foram feitas inspiradas na arquitetura italiana, pois o padre que desenhou era da Itália”
O outro mito
A historiadora publicou um artigo na revista Programa de santo Antônio na edição de 2021, onde ela conta que, em 1910, houve um grande incêndio no altar-mor da matriz, queimando parte da imagem do santo que era feita de madeira, a imagem foi mandada para uma oficina de restauração que ficava em Óbidos, e trocaram a cor da batina do Santo Antônio de marrom para preto. Quando a imagem retornou par Alenquer as pessoas foram receber no porto da cidade com festa, fogos de artificio, bandas musicais, tudo por conta do santo, mas ao verem, que a cor da batina havia sido trocada eles falaram que o padre e o sacristão foram acusados pela população de ter vendido a imagem verdadeira para a Itália “que teriam encaixotado Santo Antônio e mandado ele acorrentado para à Itália, e que desde isso, Alenquer nunca mais levantou a cabeça, porque o Santo Antônio que era verdadeiro daqui, que era vivo, original foi vendido para a Itália”.
Ela continua e conta que os fiéis acreditavam que “Santo Antônio só ia melhorar de condições no dia que a enchente do rio Surubiú chegasse na porta da igreja e que o santo voltasse da Itália. Então ficou esse mito, para justificar as más administrações da cidade. Na realidade, o que aconteceu foi que o padre esqueceu de fazer a observação da cor da batina, e isso virou mais um mito relacionado a Santo Antônio”.
Entre mitos e verdade o que não pode ser negado é a devoção dos alenquerenses por Santo Antônio. Todos os anos as festividades iniciam no dia primeiro de junho, com o círio, e encerram no dia 13 com a tradicional queima de fogos para o santo. É nesse período de festa que as pessoas que moram em outros lugares retornam para Alenquer e passam junto da família esse período. Demonstrando a forca da fé dos povos ximangos.
É até difícil imaginar Alenquer sem Santo Antônio, não foi por acaso que os Capuchos chegaram na região de Alenquer no dia 13 de junho, eles chegaram nesse dia porque Santo Antônio tinha que ser o padroeiro de Alenquer, a força que ele transmite para os ximangos explica isso.
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