Às vésperas do dia 7 de setembro, no marco da Independência do Brasil, o presidente Jair Bolsonaro voltou a defender o armamento da população, dessa vez chamando de “idiotas” aqueles que defendem a compra do feijão em lugar da compra de fuzis. Essa não é a primeira vez em que o presidente estimula a compra de armas de fogo. Ao contrário, as mídias têm veiculado essa postura de Bolsonaro desde sua campanha, em 2018. Agora, a declaração surge em um momento de alta generalizada nos preços – a energia elétrica sofreu novo reajuste, bem como os combustíveis, e há previsão de aumento na inflação.
Desde a candidatura de Jair Bolsonaro, à época aliado ao Partido Social Liberal (PSL), uma das pautas defendidas por ele vem sendo o incentivo ao porte de armas. Logo após assumir seu mandato, em janeiro de 2019, Bolsonaro assinou um decreto que buscava cumprir uma de suas principais promessas de campanha: a flexibilização da posse de armas. Em maio do mesmo ano, veio outro decreto, aumentando o número de profissionais que poderiam ter acesso ao porte de armas de fogo. Tudo isso porque, segundo Jair Bolsonaro, “povo armado jamais será escravizado”, o que mostra que, para ele, as armas, se empunhadas pelo povo, garantiriam sua segurança. Os dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), porém, discordam do presidente: nos 14 anos anteriores ao Estatuto do Desarmamento, instituído em 2003, os assassinatos por tiro no Brasil subiram 5,5% anualmente. Nos 14 anos seguintes, passaram a subir apenas 0,85% a cada ano.
Além disso, é importante lembrar que a conjuntura atual, em que o presidente volta a estimular a compra de armas de fogo pela população, comparando essa aquisição à de alimentos, é uma conjuntura de crise econômica, entre tantas outras – a taxa oficial de inflação do país deve atingir os 7,27%. Como resultado, os alimentos encareceram. O valor da cesta básica do trabalhador brasileiro quase empata com o valor do seu salário, a exemplo de São Paulo, onde, em julho, o custo da cesta básica atingiu R$ 1.064,79, enquanto o salário mínimo atual é de R$1.100.
É em meio a essas dificuldades que Jair Bolsonaro profere estas palavras: "Tem que todo mundo comprar fuzil, pô... Tem um idiota: 'Ah, tem que comprar é feijão'. Cara, se não quer comprar fuzil, não enche o saco de quem quer comprar”. Desconsiderando a real necessidade de grande parte da população brasileira de pôr comida no próprio prato, o Presidente da República faz uma terrível comparação entre a importância de comprar alimentos e a de comprar armas de fogo. Para evitar o aumento da fome e da violência, então, só resta se perguntar: vale mais o feijão que mantém a vida ou o fuzil que a retira?
Acesse as redes sociais do Tapajós de Fato: Facebook, Instagram e Twitter.