Domingo, 26 de Janeiro de 2025
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Nas Trilhas das Unidades de Conservação: RESEX TAPAJÓS-ARAPIUNS, trajetória de (re) existência

O Tapajós de Fato continua sua série de reportagens sobre a importância das unidades de conservação para a região do oeste do Pará, hoje falaremos da Resex Tapajós-Arapiuns.

02/03/2022 às 17h21
Por: Tapajós de Fato
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Nas Trilhas das Unidades de Conservação: RESEX TAPAJÓS-ARAPIUNS, trajetória de (re) existência

A Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns é uma das maiores Unidades de Conservação - UC no Brasil, com uma área total de 647.610 hectares (Decreto s/n° de 06/11/1998). Também é a mais populosa do país, com cerca de 4.853 famílias e aproximadamente 23 mil habitantes, em 72 comunidades e aldeias indígenas.

 

Na tese de Doutorado da UFOPA de Marcelo Moraes de Andrade no ano de 2019, fala que as comunidades nascem de antigas vilas de missões religiosas e aldeias indígenas, o modo de vida está baseado no extrativismo, na agricultura familiar e cultura local, assim, a criação da Resex foi um projeto comunitário de reprodução do modo de vida que estava ameaçado pela exploração de madeira, causando sérios conflitos, somente em 1998 os moradores conquistaram através da união e esforço a criação da reserva extrativista. 

 

Ainda para o pesquisador, o movimento dos povos em defesa do território se deu através da união entre lideranças e comunidades do Arapiuns e Tapajós, com ajuda de sindicatos, organizações não-governamentais – ONG 's, entre outros.

 

Sobre a importância da criação da Resex, Livaldo Sarmento da Silva, morador da comunidade São Pedro na Resex, associado da Tapajoara e colaborador do Projeto Saúde e Alegria – PSA, menciona: “sem dúvida para nós, tem uma importância enorme, na época que a gente conquistou a Resex eu estava na presidência do Sindicato dos Trabalhadores Rurais. E aí nós mergulhamos numa parceria junto com diversas entidades aqui de Santarém. A importância da Resex em primeiro lugar é o de garantir um território para uma população tradicional, uma população que sempre morou aqui, seus antepassados viveram no território e constituíram suas famílias, enfim. Então tem diversos aspectos dessa importância, a social, a importância cultural, a importância econômica, a importância ambiental”. 

 

Livaldo Sarmento ainda comenta que: “quando a gente fala hoje da economia, falamos das muitas comunidades ou muitos grupos produtivos hoje já estão conhecendo novos processos produtivos de formas de produção, porque justamente é uma é um território coletivo é uma unidade de conservação, é uma reserva extrativista, assim como todos os territórios coletivos que foram conquistados na Amazônia e no Brasil tem a sua importância”.

 

Nesse sentido, a equipe do Tapajós de Fato procurou Raquel Sousa Chaves, indígena do povo Tupinambá, agricultora, cacica do Conselho Indígena Tupinambá do Baixo Tapajós e Doutoranda em Antropologia Social pela Unb, que fala: “hoje a gente entende, sobre essa questão da importância da economia e da bioeconomia que o território, cultura e a floresta em pé.”

 

Raquel destaca que existem conhecimentos associados à biodiversidade que é o foco necessário para alavancar cada vez mais os processos na unidade de conservação “fortalecendo como uma forma de se ter qualidade de vida, de gerar economia então a gente compreende e entende a importância de que isso tudo está para unir, se juntar e a partir daí a gente pode produzir para o nosso consumo, com alimentos de qualidade e poder estar a partir disso também gerando economia, vendendo os nossos próprios alimentos, nossos próprios artesanatos. Com aquilo que a gente tem de melhor no nosso território, então nesse sentido eu vejo que a gente pode estar desenvolvendo, com formas de economias locais”.

 

Quando questionado sobre os desafios da Resex, Livaldo Sarmento comenta: “nós temos grandes desafios e os desafios, nas entidades representativas e as entidades de apoio que tem em continuar este esse trabalho de formação de novas lideranças, de formações de novas técnicas de produção. Por exemplo, hoje nós já temos resultados bem positivos na questão da produção do artesanato no turismo e nas experiências de turismo de base comunitária, e estamos iniciando uma atividade ou um nível de que eu acredito que seja muito importante que é o cooperativismo. Um grande desafio vai ser a escolha da nova diretoria da reserva, como organização que representa toda a Resex”, conclui Livaldo.

 

Já para Raquel Tupinambá o grande desafio é manter a natureza viva, pois: “A natureza em pé e também os conhecimentos culturais das populações. Então, eu acho que a importância da criação da Reserva considerando aspectos econômicos, culturais e ambientais se resume a isso, em podermos ter uma área florestada, com o seu povo vivendo ali dentro de forma que a gente pudesse estar tendo uma qualidade de vida em harmonia”.

 

Diante do contexto da criação usando como fonte a resistência em defesa da Resex Tapajós-Arapiuns, mostra que a união é importante para garantir direitos, desde a fundação da Resex que veio a partir da reivindicação de várias lideranças entre mulheres e homens que protagonizaram o plantio de uma semente para proteção do seu território a partir da construção de uma unidade de conservação extrativista.

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