A objetificação feminina (objetificação sexual da mulher) ocorre quando a mulher é desumanizada, e seu corpo torna-se somente um objeto de prazer.
Isso acontece de diversas formas, seja na TV, nas propagandas, nas redes sociais, e todas as mulheres estão sujeitas a ser objetificadas, independente da sua cor, credo ou classe social.
No entanto, devido a uma questão cultural em que estão inseridas as mulheres indígenas, por terem seus corpos sempre representados de forma estereotipada e sexualizada, seja nos livros, nas novelas, ou na cultura do estrupo dos corpos indígenas produzidos desde a colonização, a objetificação torna-se ainda mais evidente.
No imaginário colonial, os indígenas eram associadas à figura bíblica dos cananeus, situação explicada pelo que os povos indígenas eram vistos como pecado sexual, e por este motivo os colonizadores visualizaram o corpo indígena como sujo e desagradável.
O costume da prática da violência sexual nas colônias, sobretudo, com as mulheres, passava a ideia de que as terras e os corpos indígenas eram violáveis e de propridade dos colonizadores.
Nos dias de hoje essa realidade não chega a ser tão diferente, são inúmeros os casos de exploração sexual de mulheres indígenas, além da estereotipação do corpo ideal, e ainda ter que conviver com a constante objetificação de seus corpos construída historicamente.
A equipe do Tapajós de Fato conversou com Jéssica Kumaruara, que saiu da sua aldeia para morar em Santarém em 2018, e contou das dificuldades de ser uma mulher indígena longe da sua aldeia. “Ser mulher já é difícil, imagina agora ser mulher indígena e andar pintada com os grafismos do seu povo, entrar no ônibus com a mão pintada de jenipapo e as pessoas se afastando ou alguém te encarando fixamente ou querendo tocar na tua pele ou querendo encostar em ti”.
Jéssica é uma jovem universitária que precisa todos os dias fazer o percurso até a universidade, e para além disso não abre mão da sua cultura, dos grafismo e do orgulho de ser uma mulher indígena, mas é um desafio cotidiano andar pelas ruas de Santarém.
“Andar na rua e ouvir "me leva pra tua tribo", "como faço pra casar contigo", "Que índia gostosa", "me dá teu número", "eu queria ser índio", homens ficam assobiando, querendo pegar no meu cabelo... Essas são algumas das muitas experiências que já tive e acredito que com várias mulheres indígenas também já aconteceram”.
A equipe do Tapajós de Fato também conversou com Danny Cardoso, dançarina de Carimbó e da etnia Arapiun. E como dançarina tem seu corpo como ferramenta de trabalho, ela conta sobre as dificuldades de manter o profissionalismo quando os homens enxergam o seu corpo como um objeto. “Sinto raiva, e um pouco de medo quando escuto qualquer comentário sobre meu corpo ou roupa, mas rebato e deixo eles sem jeito”.
(Foto:@brankaphotography)
Danny também fala de como precisa tomar medidas de segurança nessas situações. “Evito muito sair sozinha, justamente por esse tipo de situações, que só acontecem quando estou só ou acompanhada de outra mulher”.
As mulheres sentem na pele as piadas maldosas, e principalmente o medo de ter seus corpos violados, e para se proteger precisam mudar seus comportamento e cultura, para não passarem por certas situações, que seriam evitadas apenas respeito aos corpos das mulheres.