DEMOCRACIA SOCIOAMBIENTAL: o futuro da Amazônia está nas urnas?

O texto traz reflexões atuais sobre o futuro da Amazônia numa linha política e eleições em 2022.

02/05/2022 às 11h24 Atualizada em 09/05/2022 às 14h44
Por: Tapajós de Fato Fonte: Tapajós de Fato
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Fonte: ClimaInfo
Fonte: ClimaInfo

A política é central em nossas vidas, isso é fato, que vai desde a execução do acesso à educação, saúde, equidade social entre outras formas de gestão de processos de inclusão social. Para além de executar as políticas públicas é preciso também fiscalizar o andamento da gestão do governo bem como aplicar e criar leis, assim, é definido o papel do executivo (Presidente e Governador) e legislativo (Deputado Estadual; Deputado Federal e Senador).

Percebendo a importância da política e que nossas escolhas podem influenciar positivamente ou negativamente as bases que governam o estado brasileiro. Nesse ponto em especial é visto em diferentes redes de notícias um cenário bastante crítico da gestão ambiental e nas políticas públicas que cuidam da natureza, mesmo com leis que reforçam essa proteção dos biomas brasileiros.

No atual governo federal, conforme relatório do Observatório do Clima (2021/2022), sobre o terceiro ano de destruição ambiental sob a gestão do presidente Bolsonaro, pela aproximação dos políticos de centro do Congresso Nacional (Deputados e Senadores), em bancadas dos ruralistas e mineração, fizeram e fazem mudanças nas leis ambientais flexibilizando como aconteceu com o Código Florestal, entre outros. Os territórios mais devastados pela política da destruição são o Cerrado e a Amazônia. A relação eleição e devastação é tão forte que em ano de votação o número de desmatamento aumenta, assim como tentativas de leis no Congresso crescem.

A partir desse contexto inevitável entre proteção socioambiental e eleições em 2022 na Amazônia, o Tapajós de Fato entrevistou Andréa Simone Rente Leão, docente da Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA, Doutora em Ciências Sociais com ênfase em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e Marquinho Mota, indigenista, ativista socioambiental, coordenador de projetos - Rede FAOR/Fórum da Amazônia Oriental.

 

De fato, o futuro da Amazônia passa pelas urnas?

Para Andréa Simone Rente Leão, o futuro da Amazônia e do país, hoje, passa pelas urnas. Ela acredita que quando vivemos em uma democracia, a sociedade precisa ir para as urnas votar em projetos que visem o coletivo e os grupos sociais que realmente precisam de políticas capazes de combater a pobreza e desigualdades.

“A Amazônia e seu povo fazem parte desse contexto e defendê-la socialmente e ambientalmente significa, num período de eleição, votar em projetos que levem em consideração as pessoas que aqui vivem. Infelizmente, historicamente o que se tem visto para a Amazônia são políticas que vêm de cima para baixo e que atendem as demandas de fora e, isso precisa mudar. E, para mudar, não basta só votar que vai fazer a diferença no que diz respeito à conservação e desenvolvimento sustentável da Amazônia”, refletiu a docente.

Na compreensão de Marquinho Mota, o futuro está relacionado ao campo político, porém, não somente nas urnas, mas também na pressão social em cima dos políticos e na política para que a sociedade tenha poder, senão vamos continuar sendo “tratorado” e desrespeitado em nossos direitos e nas nossas necessidades. 

Ainda para Marquinho Mota, “tem que ter um parlamento forte para vetar leis que visam destruição, tem que ter o presidente ou uma presidenta que seja comprometida com as causas socioambientais da Amazônia, não só da Amazônia, mas de todas as florestas, porque o Cerrado também está ameaçado, os pampas também são ameaçados, a caatinga está ameaçada. Todos os biomas, todas as florestas estão ameaçadas. Acho difícil, mas não acho impossível mais distante disso a gente já esteve”, finaliza o ativista.

 

Respeito e diversidade nas eleições de 2022

Na compreensão de Marquinho Mota o ideal para estas eleições é uma bancada indígena e socioambientalista bastante forte, que possa realmente bloquear projetos e sessões que estivesse atacando contra os direitos das populações indígenas, tradicionais e a própria natureza, assim como ter um presidente que fosse de verdade comprometido com a realidade socioambiental. Para Marquinho Mota, o eleitor tem que ficar observando o plano de governo de cada candidato e votar no menos pior, porque infelizmente entre os candidatos e candidatas não vê um compromisso socioambiental com a Amazônia.

Já Andréa Simone, pensa que não podemos esperar apenas dos governantes, os grupos sociais organizados e que defendem a Amazônia para seu povo, têm que estar preparados e atuantes para pensar e propor o que se quer de políticas para a Amazônia. E, neste contexto, as políticas ideais para a Amazônia serão sempre aquelas que coloquem o povo Amazônida em primeiro lugar. 

A docente ainda fala que, “políticas que busquem equacionar uma dinâmica em que a economia, direitos sociais e conservação ambiental estejam em equilíbrio; que respeitem as vontades das populações tradicionais; que deem condições e qualidade de vida as camadas urbanas e rurais; e, que fortaleçam a Educação, pilar de uma construção cidadã mais consciente dos seus direitos e deveres. Uma sociedade com uma Educação de qualidade, em todos os seus níveis, vai às urnas votar em projetos que beneficiem um todo”.

 

O futuro que a Amazônia quer...

A professora Andréa Leão, menciona que o futuro é:

“Um árduo caminho, até utópico diria no contexto que vivemos hoje. Mas, é uma utopia real e que precisa ser resgatada, pois na minha opinião, se não for assim dificilmente o que acontecer nas urnas mudará alguma coisa para a Amazônia. É preciso que nós amazônidas estejamos conscientes do que queremos para a região e, buscar defender onde atuamos em projetos que realmente sejam propostas para a Amazônia. Se conseguirmos isso, as urnas serão uma consequência desse processo”.

 

Marquinho Mota, ao ser questionado sobre o futuro que a Amazônia quer no campo político e nas urnas, traz o seguinte pensamento:

“Entendemos que as correlações de forças no Congresso Nacional são desiguais, quando percebemos que a bancada/lobby da mineração tem mais de 150 deputados financiados por empresas, a ocupação do parlamento ou como dito no ATL: “aldeamento da política”, se faz necessário, e é importante durante a campanha eleger o maior número de pessoas que irão representar o interesse das causas socioambientais para propor leis e barrar atos inconstitucionais, pois os povos indígenas precisam fazer parte da política como sujeitos protagonistas. A gente da Amazônia está muito mal representada, precisamos criar nossas bancadas para um futuro melhor na Amazônia”, finaliza o entrevistado.   

 

Campanha para votação

Vale lembrar que o Tapajós de Fato está na campanha nacional para que jovens façam valer seu voto, retirando seu título de eleitor, assim como regularização eleitoral para que a democracia faça valer nessas eleições.

 

A campanha já foi aderida por intelectuais, atores, atrizes, cantores, cantoras e produtores culturais e de mídias sociais de todo o Brasil e internacional, mais recentemente ganhando apoio do ator Leonardo DiCaprio, que falou sobre o voto de adolescente e também sobre a importância do Brasil para o ecossistema global, com destaque para a Amazônia. Segundo o ator, o que acontece no país tem um impacto global para o meio ambiente.

 

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