A Federação da Associações Quilombolas de Santarém (FOQS), que representa as 12 comunidades quilombolas do município de Santarém, atua de forma intensa para cobrar e garantir os direitos dos quilombolas em todas as esferas. Com a pandemia a atuação foi para garantir a sobrevivência dos quilombolas. Uma das estratégias foi intensificar as ações do projeto Omulu.
O Projeto Omulu, surgiu no final de 2019 e teve suas ações intensificadas em 2020 por conta do avanço da pandemia, de início foi um projeto de comunicação para levar informações sobre a covid-19, atualmente trabalha também com ações humanitárias dentro das comunidades quilombolas em Santarém.
A secretária da FOQS, Miriane Coelho, conta que devido a pandemia a Federação precisou criar estratégias de sobrevivência. “Uma das estratégias foi, dentro das ações da FOQS, o Projeto Omulu”. Segundo a secretária, apesar do projeto ter sido pensado para atender necessidades imediatas, foi percebido que ele precisava continuar.
Miriane Coelho fala que a luta sempre foi pelo direito à terra, com a pandemia foi priorizado cuidar da saúde de quem está em cima da terra. “Se a gente não cuidar da nossa saúde, nós não teremos força para lutar pelos nossos territórios”.
Por conta das restrições adotadas como medidas de enfrentamento ao vírus, as comunidades tiveram suas dinâmicas alteradas, Marluce Coelho, coordenadora do Projeto Omulu, conta que “a fome também chegou aos quilombos, e a gente precisava levar esperança” com a entrega de cestas básicas e entrega de kits de higiene.
O Omulu no segundo ano da pandemia
A partir de 2021 o projeto virou Omolu em Ação, no segundo semestre do ano passado, como conta Marluce Coelho, desenvolveu oito ações itinerantes, segundo a coordenadora, tratam-se de “ações humanitárias de levar assistência básica aos quilombos”. Tudo é feito de forma voluntária, na equipe têm médicos, enfermeiros, dentistas e demais profissionais. As ações são desenvolvidas uma vez ao mês, cada ação é em um quilombo diferente.
A coordenadora do projeto fala que “o Omulu vem ser, hoje, dentro dos quilombos, uma esperança de trabalhar a saúde, hoje as associações trazem as demandas ao Omolu e a gente busca a parceria, seja com universidades ou com a Secretaria de Saúde, e a gente faz ações levando o que realmente eles querem”.
No dia 1º de maio, a ação do Omolu foi realizada no quilombo de Arapemã, localizado na margem esquerda do rio Amazonas, em frente a cidade de Santarém. Desta vez, além das ações de saúde, o projeto resgatou também a parte de comunicação. Os serviços foram oferecidos na escola da comunidade.
Para a secretária da FOQS, “o quilombo de Arapemã está tão perto da sede do município, mas em relação à saúde ele está tão distante”.
O quilombola Lailson Vasconcelos dos Santos, vice-coordenador da Associação Comunitária de Remanescente de Quilombo do Arapemã, (ACREQARA), fala que a ação tem grande importância, conta também que mesmo estando na frente da cidade, receber uma ação é algo muito difícil.
Lailson traz alguns problemas na área de saúde, pois quem precisa de atendimento em Unidade Básica de Saúde precisa fazer um percurso de pelo menos duas horas de barco até a comunidade. Para o morador, é mais viável buscar atendimento na cidade do que ir até a UBS mais próxima.
O vice-coordenador fala que seria mais viável se fosse construído um posto de saúde no quilombo Pérola do Maicá, que fica dentro bairro Pérola do Maicá, que atendesse os quilombolas de Arapemã, Saracura e Pérola do Maicá.
Lailson relata que seu povo é um povo esquecido, “só somos lembrados quando é período de eleição”, já chegou inclusive a conversar com os demais comunitários de como a comunidade é visitada em época de campanha.
Já para Ana Cleide Vasconcelos, cantora, compositora e moradora de Arapemã, disse ser grata ao Projeto Omulu, pelos atendimentos que foram realizados no quilombo. Ana Cleide conta ainda que por conta da dificuldade de acesso a serviços de Saúde, muitas pessoas acabam não sabendo que têm problemas de saúde, com os serviços da ação as pessoas conseguem, de forma rápida realizar alguns procedimentos para checar o estado de saúde.
A presidente da associação ACREQARA, Renata Alessandra da Cruz, fala da satisfação da visita do Projeto Omulu na comunidade, principalmente pelo que a pandemia causou, ela conta que as pessoas tinham medo de saírem de suas casas para buscar atendimento, no entanto a necessidade dos serviços eram grande, segundo a presidente, a ação do Omulu foi fundamental para a comunidade quilombola.