Aconteceu no dia 5 de junho, domingo, a segunda edição do Sarau Curupira, na praça do Mirante, em Santarém. O evento é uma realização do Tapajós de Fato, e tem como objetivo ocupar os espaços públicos para levar a cultura como ferramenta de luta e resistência.
Nesta edição, além de Santarém, o sarau aconteceu em outras cidades, como: Manaus (Amazonas), Rio Branco (Acre), Açailândia (Maranhão), Belém (Pará), Muaná (Pará) e Salvaterra (Pará).
Além da expansão para além do território do Tapajós, outra característica que marcou o evento foram os parceiros que colaboraram na programação, entre eles: Saúde e Alegria, Sapopema, Suraras do Tapajós, Sttr de Santarém, Cita, Citupi e Coletivo Audiovisual Daje Kapap Eypi.
A programação do sarau contou com uma diversidade de gêneros musicais, o rock ficou por conta da banda Professor Mandrágora, o rap foi representado pelo GP Rataria, o carimbó pelos grupos Suraras do Tapajós, Kuatá e Os Encantados, já o tecnobrega quem trouxe foi a Dj Pedrita.
As poesias foram levadas para o espaço público pelos artistas e escritores: Jenna Valéria, Greice Kelly e Alan Pessoa.
O espaço da praça também foi ocupado por exposições de artesanatos e mapas cartográficos, além de vendas de comidas típicas, que foram feitas totalmente por mulheres que têm sua renda fortalecendo assim o empreendedorismo feminino.
Um dos estandes de venda foi ocupado pelas mulheres da Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais (AMTR), que levaram diversos produtos para venda. Em entrevista ao Tapajós de Fato, Marilene Rodrigues integrante da AMTR, falou dessa importância das mulheres estarem inseridas nesse meio, principalmente as mulheres rurais, “é um evento importante por colocar pra sociedade ver o quanto nós mulheres temos um potencial, estamos representando várias aqui, cada mulher que tá na área rural é mulher de luta”.
Estiveram presentes no sarau representantes de diversas organizações e movimentos, como a educadora popular da Fase, Sara Pereira, que fez uma fala de abertura trazendo um pouco da conjuntura de luta no Tapajós. Em entrevista ela fala da importância da promoção desses debates.
“É uma iniciativa muito importante de trazer esse debate para o espaço público, pois falar sobre o meio ambiente, especialmente neste dia 5 de junho, é fundamental para que a população entenda do que a gente fala, não estamos falando de temas abstratos estamos falando de temas sobre o dia a dia, pois proteger a natureza é garantir que a gente tenha cidade mais segura”
O Conselho Indígena Tapajós Arapiun também esteve presente no sarau, participando da programação fazendo uma manifestação chamando atenção para a situação do rio Tapajós. A equipe do Tapajós de fato ouviu Alexandre Arapiun, do Mídia MAKÚ, comunicação do Cita.
“Eu achei que o evento puxado pelo Tapajós de Fato, que é uma frente, na verdade um espaço onde reúne vários coletivos, várias frentes de luta dos vários movimentos de Santarém. O movimento indígena não poderia deixar de fazer parte desse evento. A gente fez um ato simbólico, mas também muito marcante na frente da cidade levando uma faixa dizendo “Socorro ao rio Tapajós”, dizendo que o mercúrio mata justamente por entender que no dia do meio ambiente não é um dia de comemoração, a gente entende que o nosso rio está morrendo por conta do mercúrio, por conta de políticas de retrocesso do governo bolsonaro. Também viemos para assistir essas apresentações culturais dos artistas de Santarém, pois entendemos que a luta do movimento também se faz através das Artes”.
Alguns integrantes das atrações musicais também falaram sobre o evento e sua representatividade, como Val Munduruku, que faz parte do grupo de carimbó Suraras do Tapajós.
“É importante fazer com que as pessoas estejam por dentro de todos os assuntos que a gente está debatendo não só aqui no Sarau, mas no que acontece diariamente no Brasil e fora dele para saber como que tem relação e como isso vai afetar a gente. Mostrando como a gente pode estar se juntando aos pensamentos para fazer essa defesa, não é uma luta só minha, não é só das meninas da associação das Suraras do Tapajós, mas sim uma luta de todos. Principalmente em defesa do nosso rio Tapajós, das nossas florestas, da nossa água que a gente tá vendo aí todos os dias estudos que comprovam a contaminação por Mercúrio”.
Sarau Curupira para além do Tapajós
Após a primeira edição do sarau ter sido bem recebida pela população santarena, outras organizações aderiram a ideia e se juntaram ao Tapajós de Fato para realizarem em suas regiões o Sarau Curupira.
Carol, integrante do Comitê Chico Mendes, conta como foi o Sarau Curupira em Rio Branco - Acre.
“A gente fez um sarau muito, conseguimos reunir povos indígenas, pessoal do Rap, poesia periférica, etc. Conseguimos trazer todas as expressões artísticas da cidade de Rio Branco para uma praça no centro da cidade, que representa a aliança dos povos da floresta”.
Mariane Castro, integrante do Observatório do Marajó, fala da parceria com o Tapajós de Fato.
“Falando sobre a parceria com o TdF, foi super importante, pois a gente já vinha conversando anteriormente sobre esse processo. Para gente alinhar a nossa comunicação com a comunidade, foi super importante poder fazer esse sarau acontecer nesses locais, Salvaterra e Muaná, pois no Marajó tem muito grupo para fortalecer, a partir disso foi super importante para comunicação da organização também”.
O Tapajós de Fato também ouviu Micaela, do Laboratório de Clima da Purpose, que falou da importância dessa articulação em rede do Sarau Curupira.
“A gente ficou muito feliz quando o Sarau Curupira conseguiu se expandir e ser uma ação em rede, pois entendemos que ações em rede fortalecem o ecossistema de coletivos e organizações dentro da agenda socioambiental e do ativismo pela Amazônia. Garante tanto o futuro da Amazônia e também dessas organizações a partir desse estreitamento de laços”.
Abandono do espaço público
A segunda edição do Sarau Curupira aconteceu novamente na praça do Mirante, e a mesma encontra- se totalmente abandonada pelo poder público, principalmente levando em consideração que a praça é um ponto turístico de Santarém.
O Sarau Curupira além de promover ações sobre questões sócio ambientais, visa também ocupar esses lugares que o poder público deixa abandonado.
A equipe do Tapajós de Fato foi realizar a limpeza do local, e se deparou com muito lixo em toda praça, além dos quiosques se encontram em completo abandono e com extremo vandalismo, e os banheiros totalmente destruídos, sem nenhuma forma de serem usados.
A II edição do Sarau Curupira mais uma vez conseguiu cumprir com seus objetivos, ocupando os espaços públicos com cultura, e levando para população debates importantes sobre clima e defesa dos territórios.