“Essa culpa eu não carrego”: as consequências do voto em branco das eleições de 2018

Cientista política explica que, apesar de parecer ser um ‘voto de protesto’, influencia na quantidade de votos que um candidato precisa para ser eleito, já que só os votos válidos são computados.

14/07/2022 às 15h07 Atualizada em 14/07/2022 às 17h44
Por: Tapajós de Fato Fonte: Tapajós de Fato
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Rede de fast food Burger King alertou, em comercial, sobre as consequências do voto em branco. Foto: Reprodução/Twitter.
Rede de fast food Burger King alertou, em comercial, sobre as consequências do voto em branco. Foto: Reprodução/Twitter.

Há quatro anos, em 2018 ano, de eleição presidencial, quando Bolsonaro se projetava como o principal candidato de direita, iniciou o período de grande perseguição da direita contra a esquerda, tendo, inclusive, a imparcialidade de um juiz federal para impedir a candidatura que apresentava alta concorrência, o ex-presidente Lula, causando também um “racha” no eleitorado brasileiro, a chamada polarização política.

 

Com Lula preso, Fernando Haddad entrou na disputa. Haddad  continuou o mesmo discurso de campanha: trazer o Brasil de Lula de volta; enquanto isso, Bolsonaro levantava um discurso de “patriotismo” e defesa de “valores morais cristão”, e, principalmente, a defesa de uma “família tradicional”. Entretanto, em meio a essa corrida, muitos brasileiros decidiram não apostar seus votos nem em Haddad e nem em Bolsonaro, mas sim pela opção cívica de votar em branco.

 

O resultado 

 As eleições presidenciais, como esperado, foram para o segundo turno e Jair Bolsonaro foi eleito com  57,7 milhões de votos, já o derrotado, Fernando Haddad, obteve 47 milhões de votos.

 

No segundo turno das eleições de 2018, os votos inválidos bateram um recorde que não era alcançado desde as eleições de 1998. As informações do Tribunal Superior Eleitoral apontam que  31,3 milhões de eleitores não compareceram às urnas, o equivalente a 21,3% do total, proporção similar ao do 2º turno presidencial de 2014. Somando os votos nulos e brancos com as abstenções, houve um contingente de 42,1 milhões de eleitores que não escolheram nenhum candidato, cerca de um terço do total do eleitorado.

 

“Essa culpa eu não carrego”, será?

 O cenário de desmonte que atravessa o Brasil, hoje, tem relação com os milhões de Brasileiros que optaram por não votar ou votar em branco nas eleições de 2018. O Tapajós de Fato entrevistou Larissa Martins,  advogada e mestranda em Ciência Política pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Larissa comenta que: “as eleições são cruciais para a democracia brasileira e, nas urnas, podemos decidir os rumos do país e escolher qual o melhor projeto de governo e, consequentemente, de sociedade”. 

 

Segundo Larissa, é preciso analisar com cautela até que ponto manifestar-se contra um sistema ou algo parecido através do voto em branco, pode c visto que pode causar consequências severas, como a onda de negacionismo ao conhecimento científico que tomou conta do Brasil. Ou mesmo a violência instigada por alienados ao fanatismo a Bolsonaro, por exemplo, que tirou a vida de Marcelo Aloizio Arruda, morto a tiros em sua festa de aniversário pelo policial penal federal Jorge José da Rocha Guaranho, que invadiu o evento em Foz do Iguaçu aos gritos de "Aqui é Bolsonaro!". Ou ainda do empresário santareno que foi espancado simplesmente por ser contra o governo Bolsonaro. Confira a matéria aqui : Após dizer que não apoia governo Bolsonaro, homem é agredido com pedaço de madeira por bolsonarista, em Santarém

 

Nesse contexto, Larissa Martins fala “os votos em branco ou nulo, apesar de parecer ser um ‘voto de protesto’, apenas influencia na quantidade de votos que um candidato precisa para ser eleito, já que só os votos válidos são computados. Com isso, é como se você deixasse outra pessoa decidir os rumos do país no seu lugar”. 

 

Durante a entrevista, a advogada foi questionada se, levando em consideração a pluralidade do Brasil, deixar outras pessoas decidirem os rumos do país através do voto nas urnas, é interessante? Larissa diz o seguinte: “Não. Se existe um direito ao voto, é interessante que eu, enquanto cidadão/cidadã do país, vá exercê-lo. O Brasil é um país pluripartidário, ou seja, que tem vários partidos. Isso se dá inclusive porque existem grupos com ideias diferentes sobre o governo e a coisa pública. Isso possibilita que haja inúmeros candidatos nas eleições com ideias diferentes ou similares uns dos outros. É importante pesquisar e escolher o que mais te representa”.

 

Advogada e mestranda Larissa Martins. Foto: Acervo pessoal.

 

Olhar para o cenário brasileiro e dizer que não carrega a culpa, por ter optado por não votar em ninguém em 2018 é ser conivente com todos os crimes que o atual governo tem cometido. A mestranda Larissa Martins ressalta que, “a política está em tudo, desde o preço da passagem de ônibus até o preço do gás de cozinha e do feijão. Como vivemos em uma democracia representativa, a forma que temos de escolher quem irá nos representar nas casas legislativas é através do voto. O voto pode decidir e mudar os rumos de um país. Por isso é tão importante exercer o direito e eleger, de fato, quem esteja comprometido com as urgências da população”.

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