De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), cerca de 82.373.164 mulheres estão aptas a votar nas eleições de 2022, representando pouco mais de 52% do eleitorado brasileiro, sendo um dos principais alvos de disputa entre os candidatos. Mas nas últimas eleições o que se tem visto é o alto índice de abstenções, principalmente entre as mulheres, como foi em 2018 quando o número de abstenções, votos nulos e brancos passou dos 30% entre homens e mulheres no segundo turno para a escolha do Presidente da República.
Por que deixaram de votar?
Em entrevista ao Tapajós de Fato, Karol Cavalcante, doutoranda em Ciências Políticas na UNICAMP, comentou sobre o alto nível de abstenções nas eleições de 2018. “O Brasil vive uma contradição enorme em relação à participação das mulheres na política. As mulheres são a maioria no eleitorado e a minoria no parlamento e no executivo. As mulheres tendem a demorar mais a definir o seu voto e 2018 foi uma eleição muito polarizada entre um candidato assumidamente machista, que publicamente se referia às mulheres como “uma fraquejada” e um candidato pouco conhecido do eleitorado, Fernando Haddad, que substituiu Lula após o seu indeferimento”.
Foto: Acervo Pessoal
Ela também pontua sobre o cenário político em que o país se encontrava na época.
“Soma-se a isso que o Brasil vinha de um processo conturbado em que a primeira mulher eleita presidenta do país, Dilma Rousseff, foi retirada do cargo. No geral são vários os fatores que podem levar o eleitor/eleitora a se abster, entre eles estão: a baixa identificação com as opções apresentadas, o descrédito com o sistema político, entre outros. As eleições de 2018 foram muito marcadas pela negação da política e o descrédito com as instituições.”
Para Kelly Brito, enfermeira e funcionária pública efetiva desde 2014, a queda da credibilidade política também teve grande influência na sua decisão de não votar em 2018.
Foto:acervo pessoal
“Não votei, nem justifiquei. Eu deixei de votar justamente por não ter um candidato que valesse a pena votar. Minha insatisfação era tanta que nem quis me dar ao trabalho de sair de casa para votar branco ou nulo”, diz ela.
A importância da representatividade
A falta de representatividade feminina na política também é uma problemática que tem influenciado nas escolhas das eleitoras. A ausência de incentivos dentro dos partidos políticos têm contribuído para essa falta de representação feminina. Algumas mobilizações políticas têm tentado mudar este cenário, como a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) n° 18/2021 no Congresso Nacional, que somente em abril de 2021, obrigou os partidos políticos a destinar no mínimo 30% dos recursos públicos para as campanhas eleitorais para candidaturas femininas, e a campanha do TSE “Mais Mulheres na Política 2022”, são um dos exemplos.
Para Kelly a representatividade faz muita diferença, “quando a gente se sente representada, acaba se tornando algo prazeroso, e não apenas uma obrigação. Precisamos nos sentir representadas, falta muitas vezes a gente "se ver" nos candidatos”, finaliza ela.
É o caso também da Mariana da Silva, de 23 anos, formada em pedagogia, que nas eleições de 2018 escolheu votar em branco por conta das opções e propostas políticas daquele ano.
Fonte:Acervo Pessoal.
“Acredito que é preciso ter mais representatividade feminina, propostas, roda de conversa, podcast, palestra e até visitas nas periferias, comunidades, ribeirinhos. Na real conhecimento, às vezes por falta de informação acontece, o que ocorreu em 2018”.
Apesar dessas ações do Governo o número de mulheres eleitas ainda é muito baixo. A câmara dos deputados federais detêm o maior percentual de ocupação feminina, com apenas 15%. Karol Cavalcante também comentou sobre essas ações e sobre a importância do voto e da participação das mulheres na política.
“Neste sentido acredito que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) saiu na frente ao projetar na TV propagandas que incentivam o voto feminino. Mas é preciso mais, é preciso que os partidos políticos representados através de suas candidaturas possam dialogar com as eleitoras no sentido de não apenas pedir o voto, mas também de incentivar o comparecimento. Não existe saída para os problemas do país, especialmente para vida das mulheres, que não seja pela democracia”, ela conclui.
“Esta reportagem foi produzida com apoio do programa Diversidade nas Redações, da Énois, um laboratório de jornalismo que trabalha para fortalecer a diversidade e inclusão no jornalismo brasileiro".