Confiante na disputa, Maial Kaiapó precisou adiar a viagem agendada para Belém, que iria ocorrer na próxima quinta-feira (25). A nova data anunciada pela candidata é 31 de agosto, após alta médica. Ela foi diagnosticada com malária no início desta semana, mas afirma estar otimista para a recuperação. "Vou ficar uns dias em tratamento, cumprindo agendas virtuais" - conta. Apesar de apresentar sintomas leves, acredita que a situação dela traz à tona o tema da falta de cloroquina para atender pacientes vítimas de malária nas aldeias.
"A cloroquina é um medicamento importante para o tratamento de malária que acomete principalmente quem mora nas aldeias. Porém com a falta do remédio, os parentes estão sofrendo" - pontuou sobre a indisponibilidade da cloroquina que é resultado do uso indiscriminado e com eficácia não comprovada para tratar a covid-19. Grande aliada no combate à malária na Amazônia, está em falta para quem mais precisa, por ter sido usada massivamente sem respaldo científico.
Enquanto se recupera, Maial planeja suas próximas atividades para ampliar sua mensagem e propostas coletivas para o povo. Nos dias 01 e 02 de setembro, se reúne com Lula e realiza diferentes atividades de campanha. Na sequência, a jovem liderança Kayapó (PA) que desponta como forte candidata para representar os povos da floresta na bancada dos deputados federais em Brasília, desembarca em Santarém, no Oeste do Pará.
Na região, sua agenda coincide com o dia da Amazônia, uma expressiva data para apresentar a proposta coletiva de uma política voltada à necessidade dos povos amazônicos.
Nascida na aldeia Aukre, em São Félix do Xingu, Maial é filha de Paulinho Paiakan, de quem herdou a sensibilidade e a força para lutar pelos direitos humanos e ambientais.
A primeira advogada Kaiapó teve a candidatura apresentada pela federação entre o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e Rede Sustentabilidade (REDE) no início de agosto. O plano de campanha de Maial é construído coletivamente por ela e seus parentes, atendendo ao princípio de uma política justa, plural e compartilhada.
Na educação, encontrou um aporte para brigar pela defesa de direitos do coletivo. Formou-se em direito e cursa mestrado na UFPA. “Eu precisava entender sobre os direitos que a gente tem e os que a gente ainda precisa lutar para conquistar”. Atuou como assessora jurídica na Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) por três anos, entre 2017 e 2019, quando ouviu e buscou atender as demandas feitas por indígenas em todo o país. Foi assessora da deputada federal Joenia Wapichana (Rede-RR) e viu de perto, na Câmara dos Deputados, a necessidade de mais representatividade para os indígenas.
Maial integra um grupo de candidatos que pleiteiam ocupar a Câmara para lutar pelos direitos dos povos da floresta, um sonho coletivo apelidado de ‘bancada do cocar’. Em 2022, 175 candidatos se autodeclararam indígenas conforme os registros de candidaturas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). É o maior número de candidaturas indígenas nas eleições gerais deste ano desde 2014, quando começou a autodeclaração racial.
Nos estados AC, AM, BA, DF, MG, PR, RO, RR, SC, SP, TO e PA há confirmação de candidaturas para ocupar cadeiras no legislativo, fortalecendo a proposta de representatividade.
Dentre as bandeiras da candidata pelo Pará, está buscar melhorias para a área da saúde, fortalecendo a atenção básica nos municípios com ênfase nas aldeias e povoados mais distantes e desassistidos, além de lutar pela ampliação do abastecimento de água, energia e comunicação.
O meio ambiente também é um eixo de trabalho prioritário para o mandato de Kaiapó. Maial vai garantir a centralidade da agenda de clima para a formulação de políticas públicas nas diversas temáticas e espaços governamentais; retomar a implementação de compromissos climáticos e de desenvolvimento sustentável já firmados e homologados nos diversos níveis da administração pública. Dentre as propostas, está ainda reestruturar e fortalecer os órgãos de fiscalização e monitoramento do desmatamento e ampliar a resistência no Congresso contra o "Pacote da Destruição".
Maial quer um desenvolvimento sustentável para todos e todas. Por isso vai apoiar o fortalecimento de cadeias produtivas (como a meliponicultura, extração de castanhas, produção de óleos e essências e a agricultura orgânica), de forma a contribuir para a inclusão das comunidades no mercado de produtos da sociobiodiversidade, com a adequada repartição de benefícios, restauração de ecossistemas, e proteção da biodiversidade.