Realizado no último dia 16 de setembro, nas dependências do Seminário São Pio X, na BR 163, o encontro “Agroecologia nas eleições” é uma realização da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE), Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras de Santarém, e Mojuí dos Campos (STTR), Federação das Associações de moradores e comunidade do assentamento agroextrativista da Gleba Lago Grande (FEAGLE) e Coletivo Guardiões do Bem Viver.
Tendo início às 18h, o encontro teve como objetivo estreitar os debates entre a sociedade e candidatos que vão concorrer ao pleito em 2022, para pressioná-los a se comprometerem a discutir e promover políticas públicas que beneficiem os trabalhadores e as trabalhadoras que promovem essa alternativa de agricultura limpa e saudável.
Estiveram presentes os candidatos e candidatas a deputados estaduais e federais: Maria do Carmo (PT), Márcio Pinto (PSOL), Allana Luisa (PT) e Vivi Reis (PSOL). Além de representantes dos candidatos Airton Faleiro e Carmen Foro, nas pessoas de Priscila Castro e Odete Costa, respectivamente.
Durante o encontro, representantes dos movimentos sociais presentes e os próprios trabalhadores que promovem a agroecologia, puderam expor suas demandas e cobrar que segurança alimentar e comida saudável sejam prioridades nos mandatos dos parlamentares. Os candidatos também puderam expor suas opiniões sobre o tema e se comprometeram com as demandas.
Tapajós de Fato
Maria do Carmo, candidata a deputada estadual, falou sobre a importância de revolucionar a agricultura familiar que, segundo ela, é a mesma há 20 anos. Para ela, modernizar seus métodos e proporcionar melhores condições de trabalho aos agricultores é um passo fundamental para o seu fortalecimento, pois temos um governo de Estado que, embora esteja com quase 80% de aprovação, é um governo que não enxerga as reais necessidades do povo amazônida.
"Eu entendo que nós, do Estado do Pará, precisamos e devemos fazer esse diálogo da agricultura familiar produtiva, precisamos avançar e nos modernizar. Pois esse debate da agricultura familiar há 20 anos é a mesma coisa, e a agroecologia não avança e a gente precisa ver como a gente supera esse paredão também no Pará”.
Além disso, temas transversais como saúde, gênero, sexualidade e educação também estiveram inseridos no debate enquanto discussões essenciais nessa conjuntura política, social e econômica por qual passa o Brasil, e que dialogam com o modelo da agroecologia, para, assim, pensar caminhos para o seu desenvolvimento de modo mais abrangente.
Márcio Pinto, candidato pela Bancada da Educação pelo PSOL, resgatou uma experiência que teve em uma comunidade indígena do Peru, durante sua participação no Fórum Pan-Amazônico. Segundo ele, durante a cerimônia do qual participou, a atitude de uma mulher indígena chamou sua atenção e despertou muitas percepções acerca da importância de se valorizar a educação tradicional. No ato, a indígena lava suas mãos antes de colocá-las na terra em uma posição de respeito pela natureza.
“Nós aprendemos que a terra suja e a gente faz o inverso, a gente coloca a mão na terra e só depois lavamos as mãos. E quando eu vi aquela situação eu percebi que nós fomos deseducados, pois é aquilo ali que é o correto e que vai demonstrar o respeito que você tem pela natureza que é tão necessária para a nossa sobrevivência”
Para ele, a sociedade tem muito a aprender com os conhecimentos tradicionais dos povos da Amazônia, e acredita que a sua inclusão nas escolas e universidades é necessária para vivermos em equilíbrio em termos de relação com a natureza.
Já Vivi Reis, candidata à reeleição para deputada Federal pelo PSOL, defendeu a importância das mulheres na política e no fortalecimento da agroecologia. Ela criticou ainda o que chamam de “política de morte”, promovida pelo Governo Federal, que possibilita a insegurança alimentar e a volta do Brasil ao mapa da fome. Ela acredita que é possível pensar uma política baseada na agroecologia que garanta a segurança alimentar e saúde das famílias mais carentes do país.
“É um absurdo o Brasil ter esse modelo agroexportador que coloca para fora alimentos que pouco são utilizados no dia a dia da família, como o dendê, a soja e até alimentos que servem de ração para animais e, enquanto isso, não valorizam a agricultura familiar”.
Para ela, um dos maiores desafios a serem enfrentados dentro do parlamento é a bancada ruralista, por estar aparelhada com a elite brasileira que promove a fome, a destruição da natureza e a morte de suas populações.
“Existe uma bancada que se apresenta como ruralista. E é essa bancada que tem toda a possibilidade de intervir na política do nosso país, porque eles estão do lado daqueles que detêm o poder econômico. Então eles estão fazendo o que querem do nosso país e, inclusive, ameaçando a vida de pequenos produtores, pois isso que eles chamam de ‘conflito no campo’ eu chamo de ‘crime contra a vida’ de lideranças camponesas, e a gente não pode deixar que mais nenhuma liderança camponesa morra”.
Também esteve presente no encontro o Padre Edilberto Sena, que defendeu que a pauta da agroecologia não seja tratada apenas em época de eleição. E também criticou as falsas promessas e os discursos prontos de candidatos que se aproveitam da população sem implementar nada do que foi prometido em época de campanha.
“Eu sempre ligo o rádio e fico ouvindo as campanhas. Eles estão prometendo o céu, a terra, o paraíso e cada candidato se apresenta desse jeito. Então, é complicado a gente ficar escutando só as promessas de campanha. A gente amarra alguns pontos para depois que passar a campanha os candidatos tenham compromisso, para o caso dos que forem eleitos”.
Ele colocou como proposta aos candidatos presentes que esses se comprometam a vir, pelo menos, duas vezes por ano, para se reunirem com os movimentos sociais e discutirem políticas públicas para a região. Pois para ele “se não houver, da nossa parte, uma pressão, não haverá mudança”.
Durante o evento, o Coletivo Guardiões do Bem Viver e a FASE levaram cartas contendo demandas e um levantamento de políticas públicas para os territórios da região de Santarém.
Samis Vieira, educador popular da Fase, explica o que a carta de compromisso traz para o encontro através de sua organização. Essa carta surge dentro da campanha “Agroecologia nas eleições 2022”, de incidência política nas candidaturas federais e estaduais, conduzida pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA).
“O objetivo principal da campanha é mobilizar candidatos e candidatas do campo progressista para que eles assumam o compromisso e a responsabilidade, caso sejam eleitos, de assumir essa bandeira de luta da agroecologia. Como luta em todas as suas dimensões, seja ambiental, produtiva, social, cultural, porque a agroecologia é isso”.
Ricardo Aires, integrante do Coletivo Guardiões do Bem Viver, fala da importância desse debate para a manutenção dos modos de vida tradicionais da Amazônia.
“Hoje, os nossos territórios estão imensamente sendo atacados e as políticas ambientais e sociais sofrem constantes desgastes e desmontes. Então, é preciso articular em rede e em conjunto, entre os movimentos sociais que fazem essa luta e essa defesa, para estarem em sintonia e chamando para o diálogo candidatos que se proponham a levantar essa bandeira de luta no Congresso, na Câmara Federal e Estadual, porque é ali, no âmbito político, que é decidido o que fazer com esses espaços, com esses territórios e áreas coletivas”.
O Movimento Tapajós Vivo também fez a leitura de um Manifesto e as candidaturas presentes assinaram, firmando compromisso com as demandas e pautas apresentadas.