Em meio a um período onde os índices de desmatamento e os impactos no clima estão altos, como os candidatos à presidência e a deputados federais e estaduais do Pará se posicionam diante dessas pautas.
Um fenômeno que tem ganhado intensidade nas eleições de 2022 é o chamado “voto verde” ou “voto pela Amazônia”, que é uma iniciativa de diversas organizações e coletivos que tem por objetivo alertar e conscientizar o público votante a depositar seu voto em candidatos comprometidos com a proteção e preservação da floresta amazônica e seus povos.
Diante dos retrocessos e sucateamentos de órgãos de proteção ambiental nos últimos anos, surge o alerta sobre os altos índices de desmatamentos, queimadas e com o avanço de grandes projetos, cuja atuação geram grandes impactos ambientais e sociais na Amazônia.
Preocupados com o futuro do planeta, essas iniciativas indicam que as consequências da destruição ambiental e a falta de comprometimento de parlamentares com a causa, tendem a recair sobre a população mais vulnerável que acaba ficando mais exposta às mudanças climáticas e sem qualquer chance real de defesa.
Mobilizações para fortalecer a pauta
Na região de Santarém, o Movimento Tapajós Vivo (MTV) realiza a campanha “Que clima é esse Tapajós? Juventude vota em defesa do território”, com a proposta de mobilizar jovens a entender como o voto em candidaturas comprometidas com as causas socioambientais têm impacto direto na região do Tapajós.
Foto reprodução da campanha do Movimento Tapajós Vivo (MTV)
O Tapajós de Fato entrevistou Kamila Sampaio, militante do movimento, que fala quais os objetivos que a campanha deseja alcançar.
“Nossa campanha quer mobilizar a juventude presente no território tapajônico a entender como o voto deles é uma ferramenta importante para melhoria social e para transformação do dia a dia deles. A partir disso, a gente quer que essa juventude entenda como voto em candidaturas comprometidas com meio ambiente têm impacto direto no nosso território. A gente quer que a juventude esteja presente na mensagem e na mobilização da na nossa campanha”.
A campanha atua em duas linhas, a primeira é através das redes sociais com a produção de vídeos e cards com temas sobre o processo eleitoral e mudanças climáticas. A segunda, é indo até a juventude e distribuindo folders informativos que ajudarão a orientar e informar a população sobre a campanha.
“A gente espera que a construção desses conhecimentos, relacionando isso às vivências desses jovens que estão no território,que a gente consiga ter jovens instruídos sobre a temática socioambiental e entendendo o quão importante esses conhecimentos são para a defesa do território”.
Essa é uma das muitas maneiras que o movimento encontrou para fazer com que os jovens se sintam não apenas agentes ativos, mas decisivos para a defesa da Amazônia e na decisão nas urnas.
Qual o lugar da Amazônia na agenda dos presidenciáveis?
É a primeira vez que a pauta climática e ambiental está presente nos planos de governo dos 4 presidenciáveis com melhor colocação no pleito eleitoral, resultado da forte pressão internacional e da intensificação do debate na sociedade promovidos por movimentos sociais preocupados com os altos índices de degradação da Amazônia.
Jair Bolsonaro (PL), em sua participação na 77ª edição da Assembleia Geral das Nações Unidas, no último dia 20 de setembro, atacou adversários políticos e mentiu sobre dados de queimadas e desmatamentos na Amazônia, e reforçou um traço comum em seus 4 anos de governo, que é acusar os veículos tradicionais de mídia que, segundo ele, "distorcem dos dados sobre a Amazônia”.
No entanto, seu modo mentiroso de operar já é conhecido nacionalmente e internacionalmente. Às vésperas de seu discurso, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) divulgou dados que apontam que, neste mês de setembro, a Amazônia passa pelo maior número de queimadas desde o início de seu governo, demonstrando que Bolsonaro é uma farsa.
Foto da internet
Simone Tebet (MDB), também conhecida como “gatinha do agro” depois de defender abertamente esse modelo econômico durante o debate entre os presidenciáveis na Band Tv, no último dia 28 de agosto, acredita ingenuamente que o agronegócio e a sustentabilidade podem andar juntos, prometendo “acabar com a farsa dicotômica que opõe meio ambiente e desenvolvimento”.
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Ciro Gomes (PDT), também defende o desenvolvimento para a região Amazônica, mas diferente dos acima mencionados, enxerga potencial na bioeconomia como estratégia de desenvolvimento. Para ele, a biodiversidade amazônica tem um potencial extraordinário que precisa ser preservado e valorizado.
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Luiz Inácio Lula da Silva (PT), é o mais radical dos presidenciáveis em questão de preservação. Ele afirma tratar o desmatamento, as queimadas e a mineração de maneira “combativa e eficiente”. Entre suas primeiras medidas, caso se eleja, Lula afirma fortalecer os órgãos e instituições de proteção ambiental que foram deslegitimados e sucateados por Bolsonaro. Afirma ainda devolver a região amazônica para seus verdadeiros donos que são indígenas, quilombolas, ribeirinhos e extrativistas.
Mas sabemos que entre proposta e execução há uma linha abissal que separa as duas. Na mesma Amazônia de recordes de queimadas existe a Amazônia de Belo Monte.
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A Amazônia dos candidatos a Deputados Federais e Estaduais
No cenário de disputa entre candidatos e candidatas a deputados federais e estaduais, a pauta da Amazônia é cada vez menos discutida.
Carmen Foro (PT), Vivi Reis (PSOL) e Maial Kaiapó (Rede), ambas candidatas a Deputadas Federais, se constituem como uma das poucas candidatas que possuem projetos palpáveis de fomento e desenvolvimento da agricultura familiar amazônida e proteção aos povos indígenas.
No âmbito estadual, a Bancada da Educação (PSOL), a Bancada Quilombola (PSOL) e a Bancada Manas de Luta (PT), além de propostas econômicas que pautam sustentabilidade com a promoção de políticas públicas de proteção ambiental, abordam ainda a questão da demarcação e titulação de terras para indígenas e quilombolas.
Um dos objetivos nessas eleições é “aldear e aquilombar” a política com representantes dos territórios a fim de protagonizar verdadeiras mudanças e promover a defesa dos modos de vida tradicionais dos povos da Amazônia.
Além disso, a pauta climática é de extrema importância, mas ainda é pouco debatida pela maioria dos candidatos, apesar de alguns já estarem apresentando propostas para o tema.
Por isso, nessas eleições de 2022 a importância de votar verde é mais que fundamental, em meio a tantos conflitos ambientais que prejudicam a floresta, o clima, os animais e as pessoas, depositar o voto em candidatos e candidatas que propõe mudar essa triste realidade é essencial.