Localizado na mesorregião do Baixo Amazonas, no estado do Pará, o município de Monte Alegre é considerado um dos mais antigos núcleos urbanos da Amazônia.
Os primeiros registros de sua existência datam de 1639, quando Cristovão de Acuña, cronista oficial da expedição de Pedro Teixeira, fez menção ao aldeamento dos Gurupatuba, que posteriormente viria a ser Monte Alegre, denominação dada devido a topografia da região que é cercada por montes.
Durante a invasão europeia destacaram-se as riquezas em recursos naturais e a cultura indígena local, que em suas relações comerciais com outros municípios do Baixo Amazonas, fornecia muitos produtos, estando as cuias pintadas, produzidas por mulheres indígenas, em um lugar de especial importância, fato que proporcionou aos montealegrenses o apelido carinhoso de “pinta cuias”.
E foi pensando nisso que Thifany Bezerra e Luciana Sadala, orientadas pelo professor Lucenildo Soares, produziram o trabalho intitulado “Cuias pintadas: de um simples fruto à identidade de um povo da Amazônia”, de resgate e valorização da cultura local.
Thifany Bezerra, nos conta que a ideia partiu de um projeto maior chamado “Amazônia indígena”, onde as alunas ficaram encarregadas do tema cuias pintadas.
“Nosso projeto teve início em um evento maior, realizado anualmente na nossa instituição EETEPA-Monte Alegre, onde ele aborda vários elementos da cultura da Amazônia indígena, e nós ficamos encarregadas em fazer o projeto com o tema “cuias pintadas”.
O trabalho envolve pesquisas sobre o tema e também põe em prática todo o processo de produção das cuias, conhecimento histórico passado de geração em geração que permanece vivo no imaginário da população montealegrense até os dias de hoje.
“Colocamos em prática todo o processo de serrar as cuias, tirar aquela massa branca de dentro do fruto e até rabiscar a mesma. O único processo que não conseguimos concluir foi o de tingir as cuias para ela ficar com aquela cor preta e brilhosa. Realizamos também muitas pesquisas em sites, livros e obras literárias na internet. Tudo que nós encontramos referente ao nosso tema foi usado de suporte para o nosso projeto”.
As alunas explicam que todo o processo de produção das cuias utilizam técnicas indígenas e que suas pinturas estão relacionadas na concepção das paisagens.
Lucenildo Soares relata um pouco de sua experiência enquanto orientador desse projeto.
“Enquanto orientador, é sempre satisfatório e prazeroso desenvolver trabalhos com tema da Amazônia. Então, nós fizemos um projeto grande chamado ‘Amazônia indígena’ e dentro dele, nós fizemos várias atividades e várias pesquisas onde saiu esse sobre as cuias pintadas”.
Para ele, há um carinho especial por esse tema em específico, por se tratar justamente da alcunha dada a todos aqueles que nascem em Monte Alegre, que são “pinta cuia”. As alunas explicam que muitas pessoas, por vezes, não entendem a origem do apelido, e que o trabalho vem a contribuir com isso.
Embora Monte Alegre seja referência no tema, o professor explica que por uma série de fatores que ainda estão sendo estudados, o ofício deixou de ser desenvolvido no município, ou seja, não existem pessoas que produzam cuias pintadas na cidade. Por isso, a pesquisa também visa desvendar quais os fatores que levaram as pessoas a deixarem de desenvolver essa atividade e quais os prejuízos étnicos, culturais e até financeiros isso acarretou.
As alunas pretendem prosseguir com o projeto e levar esse conhecimento para um número maior de pessoas.
"Nós pretendemos dar continuidade a esse projeto e levá-lo a escolas infantis e de ensino médio, para que as pessoas tenham mais conhecimento da nossa cultura", explica Thifany.
Para o orientador, esse trabalho abriu margem para novos horizontes com a possibilidade de levar esse conhecimento para outras cidades da Amazônia, como é o caso de Santarém, com um evento pré-agendado para dezembro, de um workshop, na UEPA, além da submissão do trabalho em outros projetos e feiras de fomento à cultura e ao conhecimento científico amazônico.