O legado da Cabanagem na comunidade Pinhel, no município de Aveiro

A revolução da cabanagem no estado do Pará foi uma das maiores revoluções populares do país, que durou cinco anos (1835 a 1840) e foi a única revolução em que o povo, de fato, tomou o poder.

01/12/2022 às 14h00 Atualizada em 16/12/2022 às 13h43
Por: Darlon Neres Fonte: Tapajós de Fato
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Foto: arquivo pessoal
Foto: arquivo pessoal

corrida entre os anos de 1835 e 1840 no local onde hoje se encontra o estado do Pará, a revolta foi formada em sua maior parte por pessoas que moravam em cabanas nos rios da região. O povo lutava contra o governo central, no Período Regencial, por melhores condições de vida. Estimativas apontam que cerca de 30 mil pessoas tenham morrido durante os cinco anos de combate entre os cabanos e as tropas do governo.

 

Causas da Cabanagem

 

Crise política e econômica no Grão-Pará; autoritarismo do governo local nomeado pelos regentes; camadas populares exigiam melhores condições de vida e o fim da escravidão; disputas entre brasileiros e portugueses.

 

Foto de Cabanas/ Rede sociais

 

De um lado, os proprietários de terras, comerciantes portugueses, mercenários e as tropas imperiais enviadas pelo governo central; do outro lado, os pobres, ou seja, os cabanos moradores das cabanas nas beiras dos rios. Daí o nome cabanagem, organização composta por indígenas e negros.

 

Em Santarém, em especial, houve uma grande concentração da revolta, com isso avançou para as comunidades nas margens do rio Tapajós, Amazonas e Arapiuns.

 

A comunidade de Pinhel, no município de Aveiro, localizada à margem esquerda do curso do rio Tapajós, é conhecida por sua história de luta e resistência e por manter suas tradições vivas. 

 

Pinhel era conhecida como a missão São José dos Maytapus, fundada pelos jesuítas em 1722. Quando os portugueses chegaram trouxeram a questão religiosa, pois vieram para catequizar os indígenas e com eles também vinha a questão do santo, o São José, que ficou como padroeiro da comunidade onde hoje é a aldeia dos Maytapu.

 

Então o nome era São José dos Maytapus, porque eram os indígenas que já viviam na localidade, então o local tornou-se missão. Quando os portugueses chegavam e faziam os primeiros contatos com os povos indígenas na beirada de todo o rio Tapajós, onde tinham pequenas aldeias. Então, para facilitar a questão da catequização, a ideia da missão era trazer todo o povo para Pinhel, para facilitar o trabalho.

Foto: Margareth/ festividade de São josé

 

O Tapajós de Fato conversou com Margareth Pedroso, indígena Maytapu e professora na aldeia. 

 

“Falar um pouco da história de Pinhel é falar de resistência, de luta, a comunidade era conhecida como a missão de São José dos Maytapus, fundada pelos jesuítas portugueses. O nome da nossa aldeia, segundo os mais idosos, nasceu de um pássaro que na época se chamava Cacarai, o canto do Cacarai conhecido como pinherr, então se tornou o nome do nosso local”.

 

A presença da cabanagem no território

 

Pinhel foi palco de lutas de trincheiras em que os povos indígenas usavam suas estratégias e seus conhecimentos tradicionais para ganhar a guerra e fazer resistência para proteção de suas culturas e ancestralidades.

 

Margareth Pinheiro comenta que, “a cabanagem em Pinhel existe e foi  um dos locais que aconteceu a revolta. A minha avó contava que os portugueses chegaram aqui, mas eles queriam que os indígenas fossem escravos deles, então ao longo do período, os indígenas não aceitaram, porque eles já tinham a visão, queriam ser livres. Eles eram livres para fazer o que queriam, porém quando os portugueses vieram, os povos daqui foram perdendo sua liberdade, eram obrigados a trabalhar e não ganhavam nada em troca, é que eles não eram acostumados a ser escravizados”.

Foto Margareth/ comunitários de Pinhel

 

Para não ficarem sobre o poder dos portugueses e do governo local, os cabanos usaram a estratégia, cavaram enormes buracos, e dentro desses buracos colocaram madeiras com as pontas afiadas.

 

“Hoje quem vem visitar Pinhel, ainda pode ver esses buracos, onde faziam e colocavam as folhas por cima, usavam como armadilha, e foi então que eles conseguiram trazer os portugueses para próximo das trincheiras, e os portugues eles caiam ali e lá ficavam, então foi um modo de como eles conseguiam vencer”, disse Margareth.



O legado da Cabanagem

 

“Fica pra gente, enquanto indígena, essa luta, essa resistência, porque a gente sabe que ao longo do período nós fomos praticamente obrigados a deixar de falar nossa língua, de ter nossos costumes por conta dessa questão dos portugueses. Esse processo da cabanagem foi importante, pois nós indígenas nos libertarmos da escravidão que existia em nossa aldeia, essa foi uma luta de liberdade e vamos continuar lutando por essa liberdade sempre”, finalizou  Margareth Pinheiro.

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